Há tempos que ela não cabia mais nas suas antigas roupas, as novas também não lhe eram confortáveis, achava estranha aquela sensação de não caber mais em nada, á vezes se sentia apertada, às vezes solta demais. E foi com essa sensação que ela nua se deixou cair na cama, fechou os olhos e pensou o quanto à nudez lhe caía bem.
Com olhos fechados, bem apertados começou a imaginar... Se imaginou nua saindo pela porta rumo à rua, nua, sua alma usando como única vestimenta o corpo que lhe foi dado, e nesse imaginar se deixou levar pra longe, longe dali daquelas quatro paredes com porta trancada.
Logo estava andando pelas ruas, no começo rondada por olhares curiosos, mas continuou a andar, estava se sentindo leve, esses olhares não a incomodavam, só que não demorou pra começar a ouvir alguns rumores, e logo depois viu e ouviu muitas pessoas, a mal dizendo, mal dizendo sua falta de pudor em andar nua pelas ruas, pessoas indignadas com a falta de vergonha na cara que julgavam ela ter pra querer se mostrar daquele jeito.
Começou a ficar assustada, uma multidão agora a acompanhava, ela não entendia como eles não podiam compreender que agora ela estava livre e que eles também poderiam se sentir assim...
As ofensas só aumentavam, a perseguição agora era uma coisa doentia, era como se ela fosse à vergonha da humanidade, se sentiu acuada, o medo tomou conta de si, saiu correndo e correu muito, assim, nua, sentindo o vento entrar pelo seus poros e chegar muito mais rápido na sua alma...chegou a um lugar ermo que só ela conhecia, estava ali sozinha agora com a alma impregnada de vento. Ficou ali parada, ela com ela mesmo com um ela que até ela desconhecia.
Jamais tivera sentido aquela sensação de inteira que estava sentindo, jamais admirou a natureza como ela tão parte dela. Jamais... Sensação tão sublime se apoderara dela... Descobrira então que nem as roupas velhas e muito menos as novas eram a solução...e foi quando chegou a essa conclusão que foi despertada de supetão.
Alguém batia a porta de seu quarto para lembrá-la que já estava atrasada. Ela foi puxada brutalmente de onde estava para a “vida real”... Olhou a sua volta pegou a primeira roupa que viu, e saiu assim desconfortável pra si... Mas aceitável aos olhos do mundo... Parou na porta do quarto olhou para trás e mesmo desconfortável naquela roupa de viver sociedade, ela sorriu, sorriu porque mesmo que por poucos segundos se deixou ser ela e isso a encheu de...de...de alguma coisa, o que ao certo ela não sabia... Só sabia que era sentimento bom.
Algumas considerações:
ResponderExcluir1ª) do (Jean Paul) Sartre: O inferno são os outros.
2ª) e se ela mergulhasse nesse mundo avesso à sociedade... o que ela encontraria?
3ª) roupas definem o quê? ou pior, definem ou iniciam o quê?
4ª) somos de fato as escolhas que fazemos?
5ª) no carnaval todas as máscaras são possíveis...